No
Brasil, por incrível que pareça, parece haver semelhança entre legítimos
aposentados e as vítimas do holocausto
Quando
ouvimos falar em campo de extermínio, nossa mente, de imediato, se reporta aos
campos de concentração criados na Europa durante a segunda guerra para os quais
milhares de pessoas, especialmente judeus, foram levados compulsoriamente. Esses
campos foram construídos com o objetivo de matar pessoas em grande escala.
Dentre eles, Auschwitz II tornou-se o mais famoso. Nele, milhares de judeus
foram mortos. Isso ficou conhecido como o
holocausto.
De fato,
hoje, quando vemos essas cenas e ouvimos o relato de sobreviventes desses
campos, ficamos indignados diante de tais misérias e hostilidades praticadas
por seres humanos contra seres humanos.
Lamentavelmente,
esse horror se repete em nossos dias, não da mesma forma do passado, é óbvio,
mas no sistema em que milhares de brasileiros são enquadrados ao buscarem a
aposentadoria. A Constituição Brasileira diz: “Todos os brasileiros são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, ...” (Art. 5º).
Não haveria afirmação mais sublime para introduzir o capítulo da constituição
que trata “Dos direitos e deveres
individuais e coletivos”.
Entretanto,
o que se observa é o que alguém, certa vez, afirmou: “No Brasil, a lei é para
todos, mas nem todos são iguais perante a lei.” Enquanto alguns
ex-parlamentares e ex-servidores públicos que alegaram incapacidade permanente
para o trabalho, mas que são vistos trabalhando em outras atividades, recebem
indevidamente vultosos salários de “aposentadoria”, milhares de brasileiros,
que deram a vida pelo desenvolvimento do país, sofrem nas longas peregrinações
para provar por meio de exames e perícias que estão incapacitados para
trabalhar e que, portanto, precisam da aposentadoria. Aposentadoria esta que,
quando recebida, vai direto para a farmácia.
No Brasil,
os legítimos aposentados se constituem num exército de soldados feridos e
arranhados pelas batalhas da vida. São pessoas, em sua maioria, idealistas.
Fazem parte de uma geração que sonhou com um Brasil desenvolvido cuja sociedade
lutasse pela igualdade de seus cidadãos. Essas pessoas legaram à geração
presente valores morais e éticos que não podem jamais ser esquecidos ou
reputados como ideias de uma geração retrógrada.
Nos campos
de extermínio da Europa, os prisioneiros, se não morressem nas câmaras de gás
ou fuzilados; a fome, o frio e as doenças se encarregavam de executá-los. A
execução deles era apenas o golpe de “misericórdia”. Eram cadáveres ambulantes.
Pois já estavam mortos em suas emoções e aspirações.
Diante
disso, parece que o bom senso recomenda que o Artigo 5º da Constituição precisa
ser revisto. Uma reflexão despojada de qualquer paixão ou preconceito se faz
necessária, a fim de que se dê um basta nesse horror. O problema maior não é “o
barulho dos maus, mas o silêncio dos bons”.
Nerivan Silva é aluno do curso de Jornalismo no Ceunsp