Vindicação de direitos precisa ser fruto de racionalidade e não do instinto
Uma
forte avalanche de protestos tem atravessado o Brasil nos últimos dias.
Cidades, principalmente as capitais, em nome da democracia, têm presenciado a
onda de protestos contra autoridades políticas, sistema de transporte, saúde,
educação e outros. No meio das multidões
que vão às ruas encontram-se aqueles que, de forma impetuosa e violenta, optam
pelo quebra-quebra cujos resultados são maléficos para a sociedade como um todo.
Nesta
onda de protestos, algumas frases têm sido marcantes: “O Brasil acordou”, “Acorda Brasil”, “ O
gigante acordou” e outras. De fato, o
Brasil precisa acordar. O contexto deixa claro que esse “acordar” implica no
despertamento de uma consciência da realidade, desenvolvendo como consequência
uma leitura crítica do contexto social. Que o gigante precisa acordar, não há
dúvida. Mas, de que forma?
Protestar
contra a violência, a injustiça, a corrupção, se respaldando na violência
parece ser um contrassenso. Partir para a violência no intuito de resolver os
problemas equivale a não fazer uso de excelente recurso: a razão. O ser humano foi dotado da capacidade de
raciocínio. Suas ações não devem ser resultado do instinto (como os animais) e
sim de sua capacidade de pensar e buscar alternativas.
É
necessário que diante das atrocidades (desemprego, inflação, corrupção
política, sistema de saúde falido, obras faraônicas inacabadas) às quais os
brasileiros têm sido submetidos haja indignação. Até porque, como disse
Leonardo Boff: “Sem indignação ética não há ninguém que se mobilize para
introduzir qualquer mudança”.
Entretanto,
esse sentimento de indignação precisa ser fruto de uma reflexão crítica da
realidade. Vladimir Herzog, jornalista, assassinado em 1975 durante a ditadura
militar, afirmou: “Quando perdermos a capacidade de nos indignarmos com as
atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos
seres humanos civilizados”.
A
violência gera violência. Como diz o ditado bíblico: “Porque semeiam ventos e
colherão tempestades” (Oséias 8:7). Considerando que a ditadura foi
caracterizada pela violência, e assim o digam aqueles que dela foram vítimas, é
simplesmente inconcebível a ideia de que se busque por meio da violência a
solução para os desajustes da sociedade em nome da democracia.
O
papa Francisco, por ocasião de sua visita ao Brasil, realçou a necessidade do
diálogo para os impasses sociais. Obviamente, isto não pode ser unilateral, ou
seja, apenas a população buscando alternativas. As autoridades do país precisam
deixar de agir pelo instinto e, fazendo uso da razão, buscar o diálogo com
aquele que os constituiu: o povo.
Portanto,
protestar e não ser passivo diante de uma realidade corrompida é necessário.
Entretanto, também é necessário cuidar para que, fazendo uso da violência, não
haja uma reprodução da corrupção que se pretende combater e aniquilar.
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