domingo, 1 de setembro de 2013

Pior do que está não pode ficar

                     

    O assunto de importação de médicos tem sido causa de acirrada polêmica no Brasil. A presidente Dilma Rousseff, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lançaram no dia 8 de julho deste ano, no Palácio do Planalto, o Programa Mais Médicos, que tem como objetivo abrir cerca de 10 mil vagas para atuação exclusiva na área de atenção básica no Norte e Nordeste, periferias de grandes cidades e municípios do interior em todas as regiões do país.
    De fato, o assunto mexeu com a classe médica do Brasil. O Conselho de Medicina, por sua vez, se pronunciou contrariamente à proposta do Ministério da Saúde. Foi em meio a esta tempestade que centenas de médicos, vindos de Cuba, desembarcaram no Brasil, para arregaçarem as mangas e ajudar o país em um de seus piores dramas: a saúde pública. 
    As controvérsias são muitas. E, evidentemente, todos podem se pronunciar a favor ou contra essa iniciativa do governo. Entretanto, quando se lança um olhar desapaixonado, ou seja, sem o ímpeto e o “zelo” da maioria dos médicos e do Conselho de Medicina, percebe-se que a realidade brasileira no que se refere aos hospitais públicos, ao atendimento de pacientes e à postura de muitos médicos é um cenário cujo corredor finaliza com a morte.
    O pior é que muitos pacientes morrem antes de chegar ao fim do corredor porque, diante dos descasos aos quais são submetidos, são assassinados em suas esperanças, autoestima e perspectiva de vida. Será que o projeto “Mais Médicos” vai deixar o sistema de saúde do país pior do que está? É exatamente aí que os discursos inflamados proferidos tanto pelos médicos como pelo Conselho de Medicina se tornam insustentáveis.
    Diante dos protestos de boa parte da classe médica brasileira e dos líderes do Conselho de Medicina, a impressão que fica é a de que o sistema de saúde no Brasil vai muito bem obrigado. O que dizer daqueles médicos que aparecem nos hospitais e postos de saúde apenas para assinar o plantão e deixar as atividades por conta de residentes?  O que dizer dos corredores lotados de vivos-mortos em busca de remédio ou algum exame nos hospitais?
    E, no entanto, aqueles que deveriam se postar com prontidão para aliviar, ou pelo menos amenizar o sofrimento de alguns, simplesmente desaparecem. Mas recebem o salário. São estes que, agora, por trás de uma faixa de “zelo” e “dignidade” vão às ruas para protestar contra a vinda de profissionais que se dispõem a trabalhar. Foi com muita propriedade que certa vez alguém falou: “Mais vale um pecador confesso do que um santo hipócrita”.

   A realidade da saúde pública no Brasil parece sugerir que reforços de médicos qualificados, ainda que venham de fora, podem ajudar o país a encontrar alternativas para esse drama, porque pior do que está não pode ficar. 

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