O
assunto de importação de médicos tem sido causa de acirrada polêmica no Brasil.
A
presidente Dilma Rousseff, o Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o
Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lançaram no dia 8 de julho deste ano,
no Palácio do Planalto, o Programa Mais Médicos, que tem como objetivo abrir
cerca de 10 mil vagas para atuação exclusiva na área de atenção básica
no Norte e Nordeste, periferias de grandes cidades e municípios do
interior em todas as regiões do país.
De fato,
o assunto mexeu com a classe médica do Brasil. O Conselho de
Medicina, por sua vez, se pronunciou contrariamente à proposta do Ministério da
Saúde. Foi em meio a esta tempestade que centenas de médicos, vindos de Cuba,
desembarcaram no Brasil, para arregaçarem as mangas e ajudar o país em um de
seus piores dramas: a saúde pública.
As
controvérsias são muitas. E, evidentemente, todos podem se pronunciar a favor
ou contra essa iniciativa do governo. Entretanto, quando se lança um olhar desapaixonado,
ou seja, sem o ímpeto e o “zelo” da maioria dos médicos e do Conselho de
Medicina, percebe-se que a realidade brasileira no que se refere aos hospitais
públicos, ao atendimento de pacientes e à postura de muitos médicos é um
cenário cujo corredor finaliza com a morte.
O
pior é que muitos pacientes morrem antes de chegar ao fim do corredor porque,
diante dos descasos aos quais são submetidos, são assassinados em suas
esperanças, autoestima e perspectiva de vida. Será que o projeto “Mais Médicos”
vai deixar o sistema de saúde do país pior do que está? É exatamente aí que os
discursos inflamados proferidos tanto pelos médicos como pelo Conselho de
Medicina se tornam insustentáveis.
Diante
dos protestos de boa parte da classe médica brasileira e dos líderes do
Conselho de Medicina, a impressão que fica é a de que o sistema de saúde no
Brasil vai muito bem obrigado. O que dizer daqueles médicos que aparecem nos
hospitais e postos de saúde apenas para assinar o plantão e deixar as
atividades por conta de residentes? O
que dizer dos corredores lotados de vivos-mortos em busca de remédio ou algum
exame nos hospitais?
E,
no entanto, aqueles que deveriam se postar com prontidão para aliviar, ou pelo
menos amenizar o sofrimento de alguns, simplesmente desaparecem. Mas recebem o
salário. São estes que, agora, por trás de uma faixa de “zelo” e “dignidade”
vão às ruas para protestar contra a vinda de profissionais que se dispõem a
trabalhar. Foi com muita propriedade que certa vez alguém falou: “Mais vale um
pecador confesso do que um santo hipócrita”.
A realidade da saúde pública no Brasil
parece sugerir que reforços de médicos qualificados, ainda que venham de fora, podem
ajudar o país a encontrar alternativas para esse drama, porque pior do que está
não pode ficar.
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